Por Téta Barbosa "A tradição que vem do Sertão!"



Foto: Henrique Santos

  “Sertão: é dentro da gente” diz Guimarães Rosa sobre o Sertão dele, das Gerais. Mas posso apostar que o Sertão é tudo igual, principalmente quando ele vem de dentro pra fora.
Acontece que São José do Belmonte é tão linda, que não tem “lonjura”, nem distância que impeça de a gente fazer uma visita, nem que seja nesta crônica, ao município que já foi uma fazenda.
E o que danado a gente vai fazer nesse lugar tão longe?, o senhor deve estar se perguntando.

É porque lá, meu senhor, tem a cavalgada! Não conhece? Eu explico: cavaleiros e amazonas, devidamente vestidos com trajes reais do século XVI, percorrem 30 km do centro de São José do Belmonte até o Sítio da Pedra do Reino numa cavalgada de dar gosto.
Isso tudo seguindo a tradição das lendas de Dom Sebastião, aquele mesmo, rei de Portugal, que desapareceu misteriosamente numa batalha e nunca mais foi visto nem pra contar a história. Pois, lá pelos lados do Sertão, os agricultores acreditavam, não se sabe como nem porque, que o rei poderia desencantar (ressuscitar, na linguagem formal) para trazer um reino de paz e justiça.
O pessoal se empolgou e o “sebastianismo” virou seita, com sacrifícios e tudo mais. Claro que esse negócio de se jogar de uma pedra no meio do Sertão para que o rei aparecesse e ressuscitasse o sacrificado, não durou muito. A pedra do sacrifício, hoje chamada de Pedra do Reino, só tem festa e celebração. E bota festa nisso.
Mito, lenda, tradição, história e passagens do livro do poeta Ariano Suassuna, A Pedra do Reino, se misturam nessa confraternização popular.
Se a arte imita a vida, é em São José do Belmonte que ela encontra seu vice-versa. Ali, as cenas pulam do livro (se é que livros têm cenas) de Suassuna e ganham vida nas ruas enfeitadas do município.
A belezura é tão grande, que um desavisado pode jurar que entrou na máquina do tempo e deu de cara com o rei e seus súditos na Europa, em pleno Renascimento.
Porque tradição é assim; vai indo, vai indo, sem ninguém saber ao certo, com exatidão de cientista, de onde veio e como começou. Mas é ela, a tradição, que mostra quem somos: reis, rainhas, príncipes e princesas, pelo menos uma vez por ano!
Por:: P. Belmonte

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